Eu voltava de mais uma de minhas saidas condenadas por minha mae, por motivos obvios que eh estar de perna engessada, sair 1 da tarde de casa e chegar 11 e meia da noite, quando eu sentado, dentro da 05, vejo uma mulher na parada de onibus.
É estranho, eu sabia que nunca a tinha visto antes, mas parecia que ja a conhecia, ela me era familiar.
Muito bonita, ela tinha um metro e setenta e pouco, branca, cabelos pretos nao muito lisos. Molhados pela chuva que caia essa noite os cabelos caiam sobre os ombros. A roupa preta com detalhes vermelhos reforçavam o branco da pele, uma mulher que chama a atencao por onde passa.
Ela entrou na topic, procurou um lugar pra sentar, alguns engracadinhos ofereceram lugar, ela recusou. A voz tambem era bonita, mas ela pouco falou em meio a muitos estranhos. Por fim ela ficou em pe, encostada numa poltrona em frente a minha.
Levava consigo um violao e um violino, recusou mais uma vez quando ofereceram para protegerem o violao... o violino ela conservou sempre junto a si, parecia nutrir amor a mais pelo por ele.
Ela parecia proteger-se de todos ali, mas uma coisa foi, no mínimo, estranha, ela olhou pra mim e riu. Olhou para o gesso em minha perna e sem falar nada quase me pergunta qual o motivo de estar usando.
Depois seu olhar se perdeu no tempo.. olhando o caminho, mas na maioria do tempo ela cantava. Cantava sem parar, uma musica que eu nao conseguia ouvir, tambem nao conseguia ler nos lábios dela.
Ela amava a musica mas sofria ao cantar. Era apenas essa minha única certeza.
Comecei a imaginar o que havia se passado com ela nas últimas horas ou nos últimos tempos. Imaginei altas historias de amores não correspondidos, ela podia amar algum colega de sala de aula e ele nao ve-la, ela podia ter feito um espetaculo para alguem que nao foi, tantas possibilidade que nunca saberei. Mas ela sofria, como eu nao estou sofrendo hoje, pq as coisas criam casca logo e o sangue estanca.
Ela se protegia de todos, talvez de si mesma, nem eu mais conseguia chegar perto dela, mas eu por pouco nao chego para uma desconhecida e pergunto o telefone. Nunca em minha vida fiz isso, mas hoje minha vontade quase me faz perder a vergonha e perguntar. Eu quis saber dela, de sua vida, porque ela estava assim, o que ela estava passando, quem a estava fazendo sofrer, detalhes pra se contar pra um amigo fiel ou pra um estranho, porque só eles podem te ajudar.
Saiu do seu mundo e voltou pro nosso, pegou o violao e colocou nas costas, o violino ela abracava, gritou: é aqui motorista, é aqui. E desceu.
Todas essas historias poderiam estar acontecendo com ela mas ela tb poderia estar apenas cansada de um dia estafante, pensando na música que ela nao conseguia decorar e a preocupava..
Quem escreve nunca sabe qual o futuro do seu personagem após o ponto final, e eu não quis saber o futuro dela, eu ja a conhecia demais para um desconhecido.
Senti vontade de conversar, vontade de fazer loucuras, mas não, melhor virar post. Nem tudo que se quer depende de si..