Eu!

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5 de novembro de 2002

essa mulher é impregnante... e cá estou eu precisando do texto dela...
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.
Um dia um homem foi libertado, suas pernas mal tinham força para erguerem-se, seu pescoço sentia um alívio, mas já necessitava estar preso, o corpo acostumou-se, adaptou-se. Levantou enfim, a sensação era de estranheza, tudo lhe parecia maior, menos as pessoas, elas, sentadas, pareciam aguardar o que não iria chegar, mas contentavam-se com o que viam, a vida ali ainda fazia sentido.
O muro era alto, decerto, ainda não conseguia ver o que tinha por trás dele. A caverna lhe pareceu mais úmida, as paredes ganharam mais cores. Não, ainda não era hora de sair dali, não estava preparado. Percorreu cada canto daquela caverna, tomou banho nas águas azuis de um lago que na caverna existia mas ele não sabia, ela chamou de "oh" o lago e "ai" aquelas pedras que furavam, mas ele não sabia o que significava furar, apenas sentia. Ele sentia.
Deve ter passado duas noites lá dentro, afinal ali não existia dia, eram apenas noites, como EU sei do tempo? "Eu apenas sei".
Sentiu que era hora de encarar a vida lá fora, na manhã do primeiro dia subiu o caminho ascendente....

continua...